terça-feira, 1 de junho de 2010

Só o que me interessa

O tempo passa... Passa tal como a primavera em noites de outono.
Passa como quem grita pelo som abafado de uma voz precisa, o tempo passa como quem anuncia que a vida corre como grãos que escorrem. O tempo passa...
As vidas não são mais as mesmas, os interesses são outros. Uma alma virou duas, uma vida chata em duas engraçadas.
Eu quero vesti-la como a roupa que me servirá em outrora, eu quero cabê-la como o casaco remendado que servistes até antes do inverno novo, eu quero ser o mesmo numero de quando criança, mesmo que ele não lhe sirva... Mesmo que ele não me sirva. O tempo passa...
Bem que eu me lembro a gente sentado ali, na grama do aterro sob o sol...
Observando hipócritas disfarçados rondando ao redor.
Amigos presos, amigos sumindo assim, prá nunca mais...
Nas recordações, retratos do mal em si. Melhor é deixar prá trás... Não, não choro mais.
Eu posso dizer que vou olhar para o horizonte e ver, que tudo não passa de uma ilusão, onde duas crianças brincavam de serem leais, de serem fortes, inabaláveis, de serem adultos fingindo ser criança... Eu vou, eu vou pensar que nós ainda existimos naquele tempo em que o tempo não contava em que as horas não faziam sentido e que os risos eram mais intensos do que cada batida de um coração que já não se ouve.
Você pode saber que eu cresci, e agora sou gente grande, eu posso dizer que ainda brinco com suas bonecas e arranco a cabeça de todas elas, mas eu não posso mais dizer que você precisa ser responsável por mim, ou por nós.
O balanço se encontra vazio, os quartos agora são mudos, as cordas do violão soam sozinhas, uma mulher virou adulta, e uma criança está aprendendo a ser pequena.
Quando pensamos que tudo que podia já passou, o tempo passa...
Não nos perderemos entre monstros da nossa própria criação, não serão mais noites inteiras jogando o papo pelo chão, e quem me dera ao menos uma vez, ter de volta todo o ouro que entreguei a ti, que conseguiu em convencer que cuidar de mim foi a maior prova de amizade. Quem me dera ao menos uma vez, como a mais bela tribo, dos mais belos índios, não te atacar por me achar inocente.
Quando esperamos belas ações, nos deparamos com belas palavras.
Quando esperamos grandes canções, ouvimos pequenos arranjos.
Quando esperamos estar certos, vemos como somos errados.
Quando esperamos receber algo em troca, descobrimos que não demos nada.
Quando esperamos, que o tempo passe, ele passa...
Eu quero recostar numa árvore e adormecer meus sonhos, acordar meus medos, enfrentar minhas insônias. Eu quero poder olhar o dia, e ver o que há de bom, sorrir do meu sorriso, abraçar minha calma, tocar meu desespero, fugir do meu normal e encontrar o inválido, o ócio, a nostalgia das horas, a demora do trem, a plataforma, o sujo e mal lavado. Quero dizer o que não me satisfaz, vou gritar do abafado em meu peito, voltarei para a década que me equivale, irei inovar meu museu, reabrir minhas emoções falidas e sonhar com venenos mais doces.
Serei o camaleão da vez, onde cada cor é uma parte de mim, uma parte do meu eu, do meu não-eu, do meu fugaz super escondido.
E eu irei acordar e levantar-me da árvore que agora cai sob meus pés, onde cada passado ficou cravado em sua casca. Irei correr em direção a estrada incerta sem minhas roupas, meus pensamentos, meus fatos e falsas verdades, eu serei eu pela primeira vez.
Estarei pronta quando voltar a me ver, e serei eu, com as mesmas vestimentas que joguei sobre aquela árvore podre de passados e medos que um dia cairá em meus pés. Serei nova, serei como a fênix que renasce das cinzas com penas mais belas.
Serei entre todas as outras faces, a que mais me interessa.

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