terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Só por hoje


Não é que eu não saiba esquecer
Que não tenha a sabedoria dos mais antigos
Que não consiga ser tão forte quanto precisaria
É que já não sei mais como lhe perder
Foram tantos os motivos, os rasgos, os cortes
Que hoje vivo para estancar o pensamento
Já não sei mais o que é sangue a corte
O que é acorde da noite ou batuque de dentro
Já me veio à mente um suicido de memória
Um assassinato de passado, um tiro na testa da dor
Hoje me vejo em frangalhos do amor que me restou
Aquele quase pingado, chorado, apertado pra sair
Não pude viver meu amor até que acabasse
Tive que matá-lo por imposição do criador
Tive que esconde-lo dentro de mim, e matá-lo constantemente
Hoje eu o vejo, por fotos... Lhe vejo rindo, sem mim
Rindo de mim, para mim, com outra.
Outra vida, outra face, outro corte de cabelo
Mas leva no peito a medalha que lhe dei
Honra ao mérito por ter sobrevivido a sua partida
Hoje lhe vejo, na ausência ao lado da cama
Aquela que insisto em preencher com travesseiros
Hoje lhe adormeço, nos olhos, no tremor dos lábios
Hoje...
Hoje completam 20 anos, de mim, sem você.
Só por hoje.