sábado, 11 de agosto de 2012

Depressões da superfície


Avestruz!
É o buraco em que vivo. É como se todas as superfícies fossem desejavelmente apetitosas para famosos buracos em que me esconderia.
Abria um a cada passo em que dou.
Acordei, luz vermelha cobria todo o meu corpo por causa da cortina avermelhada e a janela aberta contra o sol.
Eu levantei. O chão frio não pôde entrar em contato com meus pés ainda quentes pois estava de chinelos, estou sempre usando escudos e tomando muito cuidado com qualquer tipo de agressão a minha face, ao meu peito, a minha pele, aos meus pés que me sustentam.
Eu senti o ar bater mais forte enquanto corria sobre algumas rodas do patins... Sem liberdade.
O joelho ralado referente ao tombo me lembra alguns outros que doeram bem mais. Os da magoa.
O filme sem desfecho, o texto sem começo, o ninho desajeitado.
Eu vim em silêncio...
É como uma carga elétrica, sem energia.
É feito raio de luz, apagando manso...
Eu preciso trocar os ambientes, os focos das fotos, as frases cansadas.
Será que consigo deixar de dizer sobre, sem que me esqueça antes?
Eu cansei dessa melancolia bonita que eu pinto só pra mim mesma... Só preu não achar que está tão ruim.
Tem muito palhaço na rua se achando engraçado, tem muito mendigo na rua não se achando gente.
Tem muita gente fazendo cagada sem que ninguém perceba, tem muita gente pra ser notada sem que alguém se importe.
Cadê a marca no mundo, o sorriso no peito e a paz nos lábios?
Pra onde foram as arvores de raízes fortes e folhas delicadas?
Hoje em dia é só pedra na cruz e velocidade no asfalto.
Hoje em dia é falta de tempo pro útil, pro essencial, pro necessitado.
Eu quero ser mais humana. Sentir ainda mais forte, mesmo que seja dor.
Eu não quero passar por essa vida como quem não passou.

Opaco.


O silêncio... De dentro.
Eu busco, mas não ouço nada.
Não tem vestigio de polvora, nem de bandeira branca.
Não estou em guerra, eu só estou com sono.

Não é melancolia, sutiliza de gestos
É uma vontade de... Do que eu falava?
Ah, sim! Não me lembro...
Deve ser a falta

As lembranças se embriagam com os copos
Não existe teor alcoólico
Existe pasma cidade
Não acredito no que vejo pelo mundo...

É ódio, vadiagem, falta de vida, honestidade
É tudo sobre o dinheiro.  Falta de gente decente.
É comida no chão, vazio no estômago, cabeça de gente
É um âmago de luxo, é lixo comendo o mundo.

É corpo doente, reclamação constante
É vontade de sumir, sou eu tentando me provar
E quem não se atenta? Se tenta? Se detecta?
Tem muito não, pouco sim, nenhum talvez.

Quem é a mula da vez?
Quem lastima mais?
Quem merece menos?
E quem não agüenta mais?