terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Só por hoje


Não é que eu não saiba esquecer
Que não tenha a sabedoria dos mais antigos
Que não consiga ser tão forte quanto precisaria
É que já não sei mais como lhe perder
Foram tantos os motivos, os rasgos, os cortes
Que hoje vivo para estancar o pensamento
Já não sei mais o que é sangue a corte
O que é acorde da noite ou batuque de dentro
Já me veio à mente um suicido de memória
Um assassinato de passado, um tiro na testa da dor
Hoje me vejo em frangalhos do amor que me restou
Aquele quase pingado, chorado, apertado pra sair
Não pude viver meu amor até que acabasse
Tive que matá-lo por imposição do criador
Tive que esconde-lo dentro de mim, e matá-lo constantemente
Hoje eu o vejo, por fotos... Lhe vejo rindo, sem mim
Rindo de mim, para mim, com outra.
Outra vida, outra face, outro corte de cabelo
Mas leva no peito a medalha que lhe dei
Honra ao mérito por ter sobrevivido a sua partida
Hoje lhe vejo, na ausência ao lado da cama
Aquela que insisto em preencher com travesseiros
Hoje lhe adormeço, nos olhos, no tremor dos lábios
Hoje...
Hoje completam 20 anos, de mim, sem você.
Só por hoje.

sábado, 11 de agosto de 2012

Depressões da superfície


Avestruz!
É o buraco em que vivo. É como se todas as superfícies fossem desejavelmente apetitosas para famosos buracos em que me esconderia.
Abria um a cada passo em que dou.
Acordei, luz vermelha cobria todo o meu corpo por causa da cortina avermelhada e a janela aberta contra o sol.
Eu levantei. O chão frio não pôde entrar em contato com meus pés ainda quentes pois estava de chinelos, estou sempre usando escudos e tomando muito cuidado com qualquer tipo de agressão a minha face, ao meu peito, a minha pele, aos meus pés que me sustentam.
Eu senti o ar bater mais forte enquanto corria sobre algumas rodas do patins... Sem liberdade.
O joelho ralado referente ao tombo me lembra alguns outros que doeram bem mais. Os da magoa.
O filme sem desfecho, o texto sem começo, o ninho desajeitado.
Eu vim em silêncio...
É como uma carga elétrica, sem energia.
É feito raio de luz, apagando manso...
Eu preciso trocar os ambientes, os focos das fotos, as frases cansadas.
Será que consigo deixar de dizer sobre, sem que me esqueça antes?
Eu cansei dessa melancolia bonita que eu pinto só pra mim mesma... Só preu não achar que está tão ruim.
Tem muito palhaço na rua se achando engraçado, tem muito mendigo na rua não se achando gente.
Tem muita gente fazendo cagada sem que ninguém perceba, tem muita gente pra ser notada sem que alguém se importe.
Cadê a marca no mundo, o sorriso no peito e a paz nos lábios?
Pra onde foram as arvores de raízes fortes e folhas delicadas?
Hoje em dia é só pedra na cruz e velocidade no asfalto.
Hoje em dia é falta de tempo pro útil, pro essencial, pro necessitado.
Eu quero ser mais humana. Sentir ainda mais forte, mesmo que seja dor.
Eu não quero passar por essa vida como quem não passou.

Opaco.


O silêncio... De dentro.
Eu busco, mas não ouço nada.
Não tem vestigio de polvora, nem de bandeira branca.
Não estou em guerra, eu só estou com sono.

Não é melancolia, sutiliza de gestos
É uma vontade de... Do que eu falava?
Ah, sim! Não me lembro...
Deve ser a falta

As lembranças se embriagam com os copos
Não existe teor alcoólico
Existe pasma cidade
Não acredito no que vejo pelo mundo...

É ódio, vadiagem, falta de vida, honestidade
É tudo sobre o dinheiro.  Falta de gente decente.
É comida no chão, vazio no estômago, cabeça de gente
É um âmago de luxo, é lixo comendo o mundo.

É corpo doente, reclamação constante
É vontade de sumir, sou eu tentando me provar
E quem não se atenta? Se tenta? Se detecta?
Tem muito não, pouco sim, nenhum talvez.

Quem é a mula da vez?
Quem lastima mais?
Quem merece menos?
E quem não agüenta mais?

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Breu.

Eu peço que vá.
Não me espere pro almoço
Deixei as flores regadas
As gavetas estão postas.
(De solidão)


Eu peço que fique!
Me apareceu em momento oportuno.
Mas não deixe que meus olhos te iludam
São olhos de medusa.


Não me confundam, as duas fontes.
São águas defronte da outra, em mesma nascente.
É o espelho torto com ferrugem no verso
Não me vou com nenhum dos gestos.


Esse baú estava inabitado.
Não havia tesouro, jóias, riquezas.
É uma falta de fineza vasculhar a solidão alheia.
Não peço que me compreenda em palavras
(Sou boa na devastação)


Hora sou demônio
Hora dou vexame 
Outrora fui revolta
Hoje estou sem nome


Consegue me classificar?
Pode ouvir onde meu peito se escondeu?
Vê o brilho que meus olhos ofuscam?
Me enxerga, mesmo que no escuro?














Janta

Fica um certo ar...
Uma leve brisa a questionar
É o mundo que virou do avesso?
Em qual esquina?

A duplicidade das coisas...
Uma linha tênue entre o trágico e o drama
Tem um tom de esquecimento
Tem o toque da lembrança

Ficou por aqui o choque da vontade
Tem se instalado a vertente do contrario
E eu me vejo pensando em ciclos
Onde foi parar?

Toda aquela erraticidade...
Não volte se puder
Não fique se eu pedir
Vá se não quiser
Espere se preciso

E eu digo, não!
Não vou lhe fazer o que me fizeram
Não vou consolar suas dores
Não vou ficar para o jantar

Já está tarde lá fora
Escuro aqui dentro.
Eu digo Adeus.
Com maiúscula pra não ter dúvida.






quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Colírio

Ó meu bem, eu já não sei mais como desculpar

Como passar por cima dos meus caprichos

Quero soltar esses bichos que me comem por dentro

É que esse vento deixa a gente meio descoberto

Me cubra somente os pés e me deixe com o resto

Amasse as cartas nunca escritas, apague essa dor

Coloque o disco riscado que te dei como prova do meu amor

Já que de nada vai valer esse delírio, eu lhe aconselho um colírio

Abra teus belos olhos castanhos, os humanos são estranhos, meu amor

Quem lhe disse que sou intolerante?

Eu tenho apenas critérios meio conflitantes

Aos teus olhos meus atos são exagerados

E quem é que vive nesse mundo se não confrontar os conformados

Amasse as cartas nunca escritas, apague a dor

Coloque o disco riscado que te dei como prova do meu amor

Já que de nada vai valer esse delírio, eu lhe aconselho um colírio

Abra teus belos olhos castanhos, os humanos são estranhos, meu amor

Coração

Olha que um dia eu vou me cansar

De tanto ter que esperar

Uma dose de um drinque qualquer

Quero um veneno de rato ou de gente

Mas que não mate de repente pra que eu possa

Deixar tua cama vazia, derradeira melancolia em cacos esmigalhados

E esses fios rotineiros que enlaçam meu sufoco vadio

Que se fechem no teu quarto, um parto a cada segundo

O buraco do mundo

Que teu violão se enforque com as cordas

Onde tua guitarra já não sola mais

Em tua garganta fira sua intragável desatenção

Ó meu bem, se é pra escolher um batuque

Eu escolho o do meu coração