segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Brincar de viver

.

Quando penso em mim no passado, não posso deixar de pensar no presente; no que sou agora, no que me tornei e no que serei.
Quando eu era aquela criança assustada, com medo do escuro, medo de monstros imaginários e seres de outro mundo, eu era mais forte do que sou hoje.
Aquela criança preocupava-se somente em brincar, em rodar na ciranda e contar até dez para começar a procurar.
Na verdade, eu nunca fui essa criança, eu nunca soube brincar, eu nunca consegui contar até dez, eu era bem mais impaciente que isso.Eu continuei procurando, procurando por mim mesma... Pela criança que nunca fui.
A criança gostava de brincar com as bonecas e sempre fazia delas princesas com seus príncipes.
Aquela criança adorava dançar e se vestir com as roupas da mãe pra poder se sentir mais adulta, agora, aquela criança só brinca com as pessoas, não mais com as bonecas, e ela não sabe mais dançar e não quer mais ser adulta, ela quer voltar a ser a criança que não soube ser.
Essa criança perdeu muitos amigos, chorou por cada um deles, dedicou-se, mas perdeu-os. Ela conseguia sorrir sem nenhum motivo aparente, mesmo quando estava triste; ela não sabia o que era a tristeza, só a sentia.
Ela conseguiu isolar o mundo e esquecer que ele não é bom, ela acreditava que ele era bom.
O mundo deu suas voltas, e a criança cresceu e passou a entender que o mundo é melhor do que ela pensava, pois ele lhe deu grandes problemas pra serem resolvidos.
E só uma grande pessoa pode receber grandes trabalhos e fazer deles o mais simples possível.
Só uma grande criança poderia abandonar sua boneca e trocá-la pelos problemas que a fariam maior ainda.
Aquela criança quebrou o seu único brinquedo mecânico: seu coração.
Ele brincou com ela, e ela com ele.
Hoje essa criança é “adulta” e não sabe mais quem é, só o que é.
Essa criança dorme sozinha, mas ainda tem medo do escuro, essa criança pede apenas atenção, apenas uma presença, apenas algo que a faça ser o que ela não sabe ser.
Essa criança, mais do que nunca, é uma construção inacabada que junta seus tijolos dia-a-dia pra quem sabe um dia, poder brincar dentro de si.

Nenhum comentário:

Postar um comentário